Conheça os 7 tipos mais comuns de desinformação

Toda vez que a gente começa uma oficina de fact-checking a turma espera pela indicação de uma ferramenta milagrosa que responda rapidinho se uma informação é verdadeira ou falsa. Até dá para imaginar uma caixa mágica onde você deposita uma mensagem e ela dispara um alarme ou uma luz de emergência, como quem grita: não compartilha, isso é mentira!

A realidade é que não seria possível criar uma caixa dessas porque, para começo de conversa, nem tudo se resume a uma questão de verdadeiro ou falso. Há muitas formas de desinformar e ser desinformado, a pesquisadora Claire Wardle, que vem estudando esse assunto há alguns anos, classificou os conteúdos de baixa qualidade que viralizam nas redes sociais em sete tipos mais comuns. Veja quais são:

1

Falsa Conexão

É quando manchetes, ilustrações ou legendas não confirmam o conteúdo.

Quantas vezes você clicou em um título para ver uma foto bombástica e quando abriu o link não era nada daquilo? Esse é o típico conteúdo que chamamos de “caça-clique”. Partindo da ideia de que o comentarista de redes sociais só vê a manchete e já sai disparando reações sem ver o conteúdo direito, essas chamadas apostam no sensacionalismo. No mercado de conteúdos digitais, existem sistemas de remuneração baseados em quantas reações, compartilhamentos ou comentários um produtor de conteúdo consegue conquistar. Isso vale como moeda de troca com anunciantes, que pagam para associar sua marca a esses canais e atingir mais consumidores, e também ajuda a ganhar dinheiro com propagandas automáticas baseadas em palavras-chave no Google e no Facebook. A possibilidade de lucro e a necessidade de audiência potencializaram a prática dos caçadores de cliques. Sua curtida vale dinheiro para alguém, então, valorize seu clique e avalie bem em que conteúdo você vai apostar.

2

Falso Contexto

Quando conteúdo genuíno é compartilhado com informação falsa.

Durante os incêndios florestais que atingiram os principais biomas do Brasil em 2019 e 2020, as redes sociais também pegaram fogo com tanta postagem que viralizou deixando rastros de desinformação. Por exemplo, a foto de um homem detido no Amazonas foi usada para insinuar que ele teria sido pago por ONGs e movimentos sociais para provocar os incêndio. Na verdade, o homem foi detido porque estava queimando fios elétricos para extrair o cobre e iniciou um incêndio acidental, conforme informou a Secretaria de Segurança do Amazonas. A mensagem que viralizou é carregada de “teorias de conspiração”, daquelas de disparar o sinal de alerta para desinformação. No exemplo ao lado, é uma pessoa conhecida quem posta, na maior da boa intenção, uma foto de fogo na floresta com a tag #prayforamazonia, em solidariedade ao bioma. Mas o jogador de futebol português Cristiano Ronaldo, cinco vezes escolhido o melhor do mundo, deu bola fora nessa. A foto que ele postou é de 2013, feita no pampa gaúcho, no outro extremo do Brasil, pelo fotógrafo Lauro Alves. Ou seja, nem sempre quem desinforma quer prejudicar alguém (saiba mais na seção História). Qualquer um pode cair em ciladas, e todos nós temos que ficar atentos. A gente explica melhor como escapar dessas furadas e verificar se a foto está no contexto certo na seção Dicas.

3

Manipulação de Conteúdo

Quando informação ou imagem genuína é manipulada para enganar

Editar uma foto ou um vídeo, para colocar ou tirar alguma informação da imagem, é um clássico da desinformação. E a maioria das edições é facilmente percebida usando dois dedos no touchscreen do seu celular para ampliar a foto na tela e perceber as marcas de edição: a luz diferente, contornos mal definidos, cores que não batem. Para edições mais elaboradas, tanto de foto quanto de vídeo, veja outras dicas de ferramentas na seção Dicas. Mas vale o mesmo de sempre: olha bem antes de compartilhar. 

Real
Falsa

Deslize sobre a foto para ver a manipulação

4

Sátira ou Paródia

Não tem qualquer intenção de prejudicar, mas tem potencial para enganar

Tá certo que assim como tem muita fraude com pinta de notícia por aí também tem muita news com cara de fake. Se você deparasse com a notícia de que um cidadão foi cobrado no IPTU pela casinha de brinquedo que construiu para o filho com material reciclado teria certeza de que é piada, não é? Mas foi notícia. Aconteceu no Distrito Federal, em 2017. O governo local depois explicou que o motivo do aumento era outro, mas a história rendeu matéria jornalística. Ao mesmo tempo, canais que inventam fatos pitorescos por mera diversão são tão criativos que podem ser muito convincentes. Nas eleições para presidente dos Estados Unidos em 2016, um dos conteúdos que mais viralizou foi a história de que o Papa Francisco tinha declarado apoio a Donald Trump. Era fake. O conteúdo foi publicado em portais de notícias de diversos países, por erro de apuração dos repórteres, que não seguiram a recomendação básica de conferir a fonte da informação – e a reputação da fonte. No caso em questão, era um site conhecido por criar histórias usando a linguagem noticiosa para fazer sátiras. No Brasil, o Sensacionalista é um dos principais portais que segue essa linha. A dica sobre o tipo de conteúdo que lá circula fica clara no subtítulo: isento de verdade. Para não pagar vale compartilhando piada como se fosse notícia, preste atenção a essas fontes.

5

Conteúdo Enganoso

Uso enganoso de informações para enquadrar uma questão ou indivíduo.

O nome dessa categoria é autoexplicativo, não acha? Um conteúdo enganoso é diferente do inventado. Muitas vezes, se analisadas de forma isolada, as informações presentes nesses conteúdos são até verdadeiras, o problema é que, associadas, elas te levam ao engano. É um truque. Daqueles que até complicam a vida de profissionais de fact-checking porque a desinformação está nas entrelinhas. É preciso ver o contexto, compreender o método e avaliar se a associação faz mesmo sentido. No caso das campanhas antivacina, que já eram uma das principais preocupações da Organização Mundial de Saúde (OMS) antes do surgimento do novo coronavírus, índices de vacinação têm apresentado queda ao redor do mundo, em parte, pelo impacto da circulação de conteúdos enganosos que associam vacina com autismo, por exemplo, o que não é verdade, entre outras teorias conspiratórias em relação a essa importante descoberta científica que ajudou a erradicar dezenas de doenças no planeta.

6

Conteúdo Impostor

Quando fontes genuínas são imitadas.

Muito cuidado com prints de tela que viralizam por aí! Vá direto à fonte, verifique se o conteúdo está lá mesmo, porque tem muita edição marota nas redes, como este caso do jornal Gazeta do Espírito Santo, que era uma montagem. Preste atenção também na URL, o endereço do site que você está consultando, porque é comum desinformadores usarem nomes e links parecidos com os de fontes conhecidas para passar credibilidade. Com áudios de Whatsapp, o cuidado deve ser ainda maior, porque é quase impossível saber quem é o dono da voz. Vozes conhecidas podem ser imitadas quase perfeitamente. Pessoas desconhecidas podem passar alta credibilidade em uma locução. A regra para áudios é não compartilhar e checar os dados citados na mensagem em outras fontes (confiáveis) para ter certeza do que está ouvindo.

7

Conteúdo Fabricado

Conteúdo novo, 100% falso, criado para ludibriar e prejudicar.

Aqui, sim, tudo é enganação. O vídeo do Mark Zuckerberg contando os “segredos de manipulação” do Facebook, por exemplo, não tem nada de verdadeiro. Nem o Mark. Trata-se de um exemplo de deep fake, uma falsificação profunda, criada com uso de inteligência artificial e técnicas avançadas de pós-produção, efeitos especiais mesmo. Já ouviu falar do filme Avatar? É basicamente essa lógica: um ator encena e a computação faz o resto. No caso do Avatar, o ator some totalmente de cena, dando lugar a um ser azulado que vive em um mundo criado artificialmente. O ator, na verdade, está em uma sala com fundo verde, o cromaqui, sobre o qual os editores de vídeo reproduzem o ambiente artificial onde se passa o filme. A diferença é que, no vídeo do Mark, esse trabalho é feito em cima de imagens de uma pessoa de verdade. Até a chanceler alemã Angela Merkel já foi alvo de deep fake. Este vídeo explica o processo. Com a quantidade imensurável de selfies depositadas a cada instante na nuvem, é possível criar um rosto com alta credibilidade totalmente do zero. Esta pessoa, por exemplo, te parece real? Pasme, mas ela foi totalmente fabricada na internet. Uma dica: aquele app que você adora porque te deixa mais velho, mais magro, tal e coisa, é um caçador de faces que podem cair nesses repositórios (para o bem e para o mal).

Esse vídeo mostra como é fácil criar deep fakes